
Triste partida tua, menina.
Crônica de Luciana Máximo
Não, eu não a conhecia. Já lhe dei uma carona um dia, a levei ao hospital. Havia apanhado do companheiro, estava com uma menininha. Pois é, a noite de ontem foi derradeira e, como sempre, o decreto final, triste demais.
Vivia de casa em casa de conhecidos, e com um homem que tanto lhe batia. Ontem mesmo, pela manhã, o maldito bateu tanto que lhe arrancou um dente, acho que bem na frente.
A informação da polícia é que a arma usada foi uma 380. E você foi alvejada também na cabeça.
Seria vingança? Disseram que o tal companheiro lhe batia e lhe mandava roubar, e talvez por isso se vingaram e te mataram, pobre menina.
Já era mais de 10 horas da noite desta quarta-feira. Depois de você sem vida, filmaram e fotografaram, não sei se para exibir, para compartilhar ou para lamentar seu triste fim.
Sei que alguém decidiu acabar com a sua trajetória de vida, que poderia, sim, ter tido outro desfecho.
Soube que tentou sair do vício, pediu ajuda, até se internou, dois meses depois voltou e, sem trabalho, sem lar, sem destino, foste arremessada mais uma vez ao gueto do cachimbo barato.
Deixou cinco filhos, dois com dois pais diferentes, uma menina com uma avó, outro com outra vó, um uma família de Rio Novo acolheu me o Conselho Tutelar de Anchieta lhe tirou outro.
Tão jovem ainda, tão boa menina, seu corpo no chão de bruços, indefesa, tinha o final escrito daquele jeito. E, como sempre, noticiamos, a maldita droga te levou a este beco sem saída.
Que pena, menina.
Acabou de sair a nova internação, mas a mente dominada pelo insano desejo da maldita pedra não deixou que fosse, menina, tinha até medida protetiva contra o homem que lhe batia todo dia, e você não conseguia sair das garras dele.
Droga, é, mais uma notícia para redigir, mais uma família despedaçada, mais um corpo, mais um inquérito, mais um velório, e mais uma vítima deste cruel vício desgraçado!