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“Se não é na universidade, onde querem as pessoas trans?”, questiona vereadora Karla Coser em discurso na Câmara de Vitória

Vereadora mais votada da capital capixaba critica moção de repúdio contra política de cotas para pessoas trans na UFES e defende inclusão como reparação histórica.

Em um discurso firme e sem rodeios, a vereadora Karla Silva Coser (PT), a mais votada de Vitória nas últimas eleições, questionou os colegas parlamentares sobre o futuro reservado às pessoas trans e travestis no Brasil. “Se não queremos elas nas ruas, nem na prostituição, nem nas universidades, onde é que queremos as pessoas travestis e transexuais?”, disparou Karla, durante sessão da Câmara Municipal nesta semana.

A fala foi motivada pela aprovação de uma moção de repúdio à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que instituiu cotas para pessoas trans e travestis no programa de pós-graduação em Ciências Sociais. Karla criticou a iniciativa da Câmara, apontando que muitos parlamentares usam o tema das cotas “apenas como palanque ideológico”, sem real compromisso com a luta por inclusão e justiça social.

“A meritocracia só pode ser critério quando partimos do mesmo ponto. No Brasil, isso está longe de ser realidade”, afirmou a vereadora, trazendo dados que reforçam a desigualdade racial no o ao ensino superior. Segundo ela, em 2022, apenas 2,8% das pessoas formadas em Medicina no país eram negras, enquanto 75% eram brancas.

Karla também ressaltou que, apesar dos avanços conquistados pelas políticas de ação afirmativa, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a verdadeira equidade. “A universidade foi pintada de preto, sim, e que bom. Mas ainda precisamos de muitos anos para chegarmos onde deveríamos estar”, defendeu.

Em suas redes sociais, a vereadora reforçou a importância das políticas afirmativas: “Cota é reparação e inclusão. É triste ver como alguns parlamentares preferem alimentar a discriminação a enfrentar a realidade de exclusão e violência que as pessoas trans e travestis vivem no Brasil”, escreveu.

Para Karla, negar a necessidade de cotas sociais e específicas para populações vulneráveis é perpetuar injustiças históricas. “Políticas afirmativas são ferramentas legítimas e necessárias. Cotas são um o em direção à reparação — e não retrocederemos!”, finalizou.

Contexto da controvérsia:

A moção de repúdio à UFES, apresentada na Câmara Municipal de Vitória, critica a decisão da instituição de reservar vagas para pessoas trans e travestis na pós-graduação. A medida da universidade foi comemorada por movimentos sociais como um avanço necessário diante da alarmante marginalização desse grupo no país, onde a expectativa de vida de pessoas trans gira em torno de 30 anos.

Apesar do respaldo de especialistas e organizações de direitos humanos, a iniciativa foi alvo de críticas de parlamentares conservadores, que alegam “desvirtuamento” dos critérios de ingresso no ensino superior.

Em tempos em que se combate a inclusão em nome de um moralismo seletivo, o discurso de Karla Coser é um lembrete incômodo, porém necessário: defender cotas não é dividir a sociedade, é tentar corrigir uma história que, até hoje, insistiu em excluir.

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