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Não. A vida não para porque você morre!

O texto a seguir é uma crônica de Luciana Maximo.

É, realmente, a vida não para porque você morre. Enquanto velam um corpo, alguém ri, lamenta, outros choram. Há quem fique em silêncio e sinta.
Todos os dias, morremos um pouco. Morre-se a cada pedaço de perda, a cada instante de dor, a cada decepção. A cada traição. A cada pouco do que você acredita e defende, que se perde, morre um “cadinho” da gente.
Você adoece, entristece. Esvai-se aos poucos, e chega uma hora em que o coração não aguenta, aperta tanto que explode. De dor, saudade, decepção, angústia, arrependimento, culpa, e tudo vira depressão.
E ela chega sem pedir licença, nas mãos de quem pouco traz alento para você. Aproveita-se do vazio de sua alma e invade todo o seu ser. Toma o lugar da sua alegria, destrói sua família, acaba com a sua dignidade. A droga comanda o cérebro, celebra o abandono e a solidão, que te carrega para um gueto sem volta. Quantos moribundos vagam por aí em busca de nada.
Então, você morre. A tristeza invade o coração e, enquanto você dorme no caixão, a vida não para, ‘mermão’.

As pessoas continuam correndo para defender o seu, e, depois, também morrem, sem se dar conta de que nem a roupa que vestirão poderão escolher.

Morremos todos. Morremos na vaidade, morremos na ganância, morremos no egoísmo, morremos na avareza, morremos na ilusão de ser, de ter, morremos.
Você morreu, Alex. Lutou tanto por todos, para todos, em todos os cantos: Piuminas, Itaputanga, Tamarino, Céu Azul, Lago Azul, Buraco da Coruja… Mas, a maioria desapareceu quando a sua dor era só sua e, naquela última madrugada, só a sua família estava lá. Não havia motivo nenhum para comemorar o seu aniversário. Sem balões, sem bolo, sem velas. Só havia choro.
sua mãe viria sábado, trazendo toda lista que elaborou. Mas ela se antecipou.

Alex, como você defendeu o pão para quem não tinha, bateu e apanhou, e depois viu quem defendia se vender, em troca de uma sombra para se deitar.
Desculpe, meu amigo, a corrupção, ah, a corrupção, essa maldita nunca para, e você morre sozinho, no seu casebre cercado de mato, tralhas e dor.
Meu amigo, eu nunca vou me esquecer. Eu me lembro bem daquele dia em que te disse que o sistema é o sistema. Não é porque você não se vende que o outro não se troca. Cada um defende o seu. Enquanto você brigava, muitos se vendiam. Outros se acomodaram atrás de benefícios e auxílios. Mantenha-se limpo, mesmo na lama, eu sei que é difícil, mas cada um vai dar conta dos seus atos.
A sociedade não nos quer bem. Não tem espaço para quem, de fato, quer um pedaço de pão para todos, sem privilégios.
A sociedade é semelhante a um teatro: no palco, as cenas ensaiadas, na plateia, só os aplausos.
Que Deus, em sua infinita misericórdia, tenha piedade de sua alma e te receba nos braços. Você foi um bom filho, cuidou muito de quem não tinha nada e esqueceu de se cuidar. Até logo, Alex Ramos.

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