
Jornalista é denunciada por vereadora após expor obra polêmica em Iriri e responde com dossiê à polícia
A vereadora de Anchieta, Terezinha Vizzoni Mezadri, registrou um boletim de ocorrência contra a jornalista Luciana Máximo, do Espírito Santo Notícias, após a publicação de reportagens que denunciam possíveis irregularidades na construção de um imóvel às margens do Córrego Iriri. O imóvel pertence à filha da parlamentar, Katia Mezadri.
O caso envolve suspeitas de favorecimento pessoal, já que a obra foi autorizada com base na Lei Municipal nº 1.674/2024, que reduziu de 30 para 3 metros a faixa de Área de Preservação Permanente no trecho urbano do córrego. A mudança na lei foi proposta pela própria vereadora, por meio de uma emenda aprovada pela Câmara.
A jornalista foi intimada pela Polícia Civil de Anchieta após a vereadora alegar calúnia, injúria e difamação. No BO, Terezinha acusa Luciana de publicar inverdades e diz que o terreno da filha é particular e legalizado. A vereadora também cita um vídeo publicado nas redes sociais, onde a jornalista teria usado frases que, segundo ela, aram tom de ameaça.
Luciana compareceu à delegacia nesta semana e entregou um dossiê ao delegado responsável. O documento reúne registros, documentos, trechos da denúncia feita ao Ministério Público e a ação popular movida por moradores de Iriri. A jornalista também redigiu um relatório próprio rebatendo ponto a ponto o que foi alegado no BO e, além disso, solicitou a abertura de um processo investigativo contra a vereadora, pedindo que sejam apuradas especialmente as circunstâncias da criação da lei que reduziu a faixa de APP.
Em sua declaração, Luciana disse que o trabalho jornalístico seguiu critérios técnicos, foi baseado em documentos públicos e na mobilização da comunidade. Ela também afirma que tentou ouvir a vereadora antes da publicação das reportagens, mas não teve retorno.
“Assim que fui informada que a vereadora tinha ido à delegacia e feito uma queixa-crime contra mim, me acusando de publicar inverdades e propagar mentiras, pedi a Deus direcionamento. As provas vieram até mim. Eu liguei para o delegado e disse que tinha documentos. Ele me pediu um dossiê, assim o fiz. A vereadora teve disposição para ir à delegacia e me denunciar, mas não teve disposição para responder às perguntas do jornal. Só depois mandou a filha falar comigo. Não me intimido. Acreditamos na Justiça, principalmente na Justiça de Deus. Nossa vida não nos pertence e nosso compromisso é com a ética e a verdade. Vamos lutar junto com a comunidade de Iriri pela praça para o povo, e pelo bosque, e pelo meio ambiente”, disse a jornalista.
Além do boletim de ocorrência, Luciana relatou que recebeu mensagens da filha da vereadora com ameaça de processo. Segundo ela, isso mostra uma tentativa clara de intimidação. “Estamos fazendo jornalismo. Não estamos atacando ninguém. O que está em jogo aqui é o uso de uma lei que foi mudada por interesse familiar. Nós entramos no caso junto com a comunidade de Iriri que anseia por esta praça. Não estamos lutando por nada para nós, nosso foco sempre foi o coletivo”, afirmou.
A jornalista informou ainda que encaminhou questionamentos formais à Câmara de Anchieta sobre a tramitação da emenda que reduziu a APP, mas até agora não obteve nenhuma resposta.
Luciana também afirmou que o próximo o será procurar o Ministério Público.