
Jongo em Marataízes: curta resgata memórias e tradição cultural
Filme documenta história do jongo na Barra do Itapemirim e sua luta contra o esquecimento
O curta-metragem “Jongo de Memória de Marataízes – Maria Preta e Zé Porto” mergulha nas origens do jongo na Barra do Itapemirim, um dos berços dessa tradição cultural no Espírito Santo. O filme resgata memórias e depoimentos de historiadores, moradores e descendentes de antigos jongueiros, mostrando como essa expressão resistiu ao tempo e ao preconceito.
No ado, o jongo era parte essencial das festividades populares, como a Festa das Canoas e a celebração de Nossa Senhora dos Navegantes. Nos anos 1940, o cronista Rubem Braga testemunhou essas manifestações e registrou a história de Benedito Calunga, um dos mais vibrantes dançarinos da época. No entanto, devido ao preconceito estrutural, o jongo foi sendo gradualmente reprimido, sobrevivendo disfarçado em festas juninas, onde os tambores aqueciam corações e mantinham viva a cultura afrodescendente.
O documentário destaca personagens como Dona Jacirema, filha de pescadores e jongueiros, que relembra as festividades religiosas e a dedicação de seu pai, Jovino Ribeiro, nas procissões de Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Penha. Sua mãe, Dona Geneci dos Santos, dividia sua vida entre o trabalho como gari, a coleta de mariscos e as danças animadas nas noites de Marataízes, participando ativamente do jongo ao lado de mestres como Dona Geralda e Mestre Bento.
Outro depoimento marcante é de Jaciele Candal Gomes, servidora pública e descendente de jongueiros, que revive suas lembranças de infância assistindo aos avôs dançando o jongo ao som dos tambores nas festas juninas. Nessas reuniões, as mulheres tinham papel essencial na dança, usando suas saias rodadas para marcar o ritmo. Dona Zezé, outra personagem da narrativa, compartilha as histórias de seu avô africano e a influência da cultura negra na formação de Marataízes.
Entre os entrevistados, o senhor Vergílio Pereira, de 97 anos, ainda entoa versos do jongo, relembrando sua participação nas Festas das Canoas. Já o pesquisador Genildo Coelho reforça a importância da preservação do jongo na região, destacando que, mesmo quando foi marginalizado, ele persistiu, muitas vezes escondido em outras manifestações culturais.
O resgate do Jongo de Memória Maria Preta e Zé Porto, iniciado em 2017 pela escritora e diretora do documentário, Bárbara Pérez, busca manter essa tradição viva por meio de oficinas e palestras em escolas. O curta também será exibido para estudantes do ensino médio e na sede da APAE de Marataízes, reforçando a importância do reconhecimento histórico e cultural.
O filme será lançado no dia 19 de março, às 22h, no canal do YouTube “Encantos do Vale e Cultura Popular” (https://www.youtube.com/@encantosdovale6602). Mais do que um registro histórico, o documentário é um ato de resistência e valorização da identidade cultural do povo marataizense.