
Eu Vi… Homenagem a nossa gente: Kennedy 61 anos de emancipação
Eu não sou tão novinha, nem tão velha que tenha perdido a memória e esquecido a minha gente. Sou, com muita honra, lá da velha Batalha, hoje Presidente Kennedy. Neste dia em que comemoramos 61 anos de emancipação, compartilho com vocês, meus conterrâneos, um pouco de nós, de nossa gente, de nosso povo e de nossos hábitos. Vem comigo para relembrarmos juntos.
Nem todas as pessoas estão nos livros de história, não são tão importantes para uns, mas eu tenho orgulho de me lembrar. É gente como a gente, gente da gente, cujas histórias, embora nem sempre registradas, compõem a identidade de um povo.
Eu vi Louro Taxista e depois Carlão cortando cabelo na barbearia. Vi dona Zeíla brigando com Marcinho por causa dos potes plásticos que iam para a padaria de Paulo Pessoa, cheios de gelo, e não voltavam. Quantas vezes a vi sentada no banco em frente ao posto de saúde! Ah, nunca vou esquecer a tia Genilda e a tia Ruth aplicando vacinas e dando injeção. Vi Lia dentista arrancar dentes no boticão. Vi Nelcimar também fazer muita dentadura.
Vi Zé Castilho prefeito, Daniel Vantil, Edilson Fricks, Aluízio Corrêa e o povo fazendo vigília para Reginaldinho sair da cadeia. Vi Paulo Burguês dirigindo o caminhão de leite e Aldinho na Pá Mecânica, rindo para todos com aquela cara sem vergonha. Vi dona Lila servindo almoço na pensão e Rosângela hospedando as professoras Liege e Denise na pousada.
Vi Tunga assustando as crianças na pracinha. Vi Deja ando toda amostrada. Vi as filhas de Amaro Lampeta. Também vi Mertilinho vendendo picolé pelas ruas da cidade. Vi Celino pregando e vendendo CD’s. Vi Franço bebendo jurubeba no balcão da padaria. Vi a venda de Ocreme na Rua da Bosta. Vi seu Valmir da Banha vendendo fiado para todo mundo que trabalhava a meia. Vi dona Cabocla na frente da casa dela. Vi Celso Fontão todo galã dirigindo seu Fuscão. Vi Lidia costurando e dividindo tudo que tinha, de uma banda de cachu a um pedaço de galinha. Vi Adriana de Nonó dirigindo o Fiat Vermelho 145 com Miminha, Agrice e Heloísa. Vi dona Maninha guardar uma rosa dentro da Bíblia no dia em que fiz 15 anos. Vi Neneca confeitando bolo para muitos casamentos e dando café pra todos na varnada. Vi Laurita com aquela enorme verruga no rosto e dona Nair ensinando a ela se aposentar. “Quando você levar seus documentos, você desmaia”.
Vi Maria de Jesus, diretora. Vi Celsão bravo, de farda da Polícia Militar. Vi seu Lúcio Moreira, delegado. Ah, eu vi seu Orestes Bahiense andando de chapéu preto. Vi Fátima professora, Inês dando aula de educação física no campo de futebol, mandando os alunos darem nove voltas no sol quente. Vi tia Rose. Vi dona Ruzara lavando roupa na cacimba. Vi Joaquim mecânico imitando o Scooby-Doo. Vi Bebeto e João Carlos tirando onda de gostosões. Hum, eu vi seu Hilário fazendo retrato de binóculo. Vi Pituca ar rebolando. Vi seu Nilton fazendo vitamina de biscoito e abacate no bar da esquina. Vi dona Zazaia na loja em frente a Rodoviária. Vi Lúcia de Newton vendendo na loja e Rogério do lado.
Como era bom ver o parque e o circo chegarem à cidade! Os comícios eram em cima de um caminhão de carroceria! Vi os crentes da Igreja Batista na Kombi indo para os cultos na roça. Eu amava as festas de casamento na casa de seu Zoca. Vi seu Jaci Vieira fazendo selas e consertando sapatos. Vi o povo feliz na Festa das Neves, com as pernas russas de poeira. Vi a lagoa da Praia de Marobá lotada de gente tomando banho e as farofadas sob os pés de castanha. Vi Vanderléia de salto alto desfilando pelas ruas.
Vi Demil de guarda no Banestes. Vi Ronilce, Keila e Gerônimo no mesmo banco. Vi Kito, Ubaldo e Darcizinho na cooperativa. Vi Timá vereador várias vezes. Vi Liege tocando violão no bar de Cizino. Vi a Cabana de Eliane e Lilian lotada, e o povo cortando no forró até o dia clarear. Eu olhava escondido pela greta de bambu.
Vi nascer o Morro das Flores, ao lado do cemitério. Vi Valmir na venda com Walkimar. Vi Celina indo a velórios. Vi seu Malaquias assobiando e Venâncio bêbado na égua Professora. Vi Noé brincar com os seis dedos. Vi a festa da roça no terreiro da casa da tia Fiota. Vi dona Emilinha vendendo sacolé. Vi Zete costurando. Eu vi Flora dando aula de Moral e Cívica e Claudinha, irmã de Bery, de História. Eu vi seu Zeca no portão da escola e Zezé Inácio com palito na boca. Mirian e Neymar fazendo unha e Maria Elvira, conselheira tutelar, atrás de adolescentes nos bailes.
No cartório, vi seu Nelceir e dona Neide registrando quase a cidade toda. Vi professor Valter no cartório eleitoral. Vi Zé Campeiro na varanda. Vi Tião Correia na beira do campo de futebol. Vi uns homens bebendo no bar de Zé Inácio, em frente à Casa Moreira Bahiense.
Vi dona Dadir contar as histórias mais antigas e escrever poesias. Vi seu Pedro Jacó vendendo verduras numa Kombi velha. Vi, durante muito tempo, Carlos Moraes, filho de seu Chico Moraes, cortando o cabelo e fazendo a barba de muitos rapazes. Vi seu Lucas mecânico e a oficina cheia de carros velhos. Vi o pastor Joaquim pregando. Vi seu Elimário tocando hinos na acordeão.
Eu vi a cidade com ruas de chão batido hoje escrever uma nova história. Tantos já se foram e ajudaram a construir este novo capítulo! Parabéns meu povo! O mais precioso bem da cidade é o seu povo,a sua identidade.