
Noites Proibidas: arte, resistência e afeto LGBTQIAPN+ em Cachoeiro
Em uma cidade que frequentemente insiste em marginalizar corpos dissidentes, o projeto “Noites Proibidas” emerge como um farol de resistência, arte e afeto para a comunidade LGBTQIAPN+. O coletivo, que teve suas raízes em 2017 como “Quintas Proibidas”, reinventou-se e, desde 2022, ocupa espaços, celebra a diversidade e questiona noções de gênero através da performance drag.
Em entrevista ao Espírito Santo Notícias, Claudia, uma das principais idealizadoras do projeto e também conhecida como a drag queen Claudia Voltz, contou, ao lado de Avelã e Renata Cordeiro, que também integram a produção do evento, sobre a trajetória, o impacto e os desafios enfrentados pelo “Noites Proibidas” em Cachoeiro de Itapemirim.
O envolvimento de Claudia com o “Noites Proibidas” começou em 2017, com as “Quintas Proibidas”. Ela relata que Renata Cordeiro, então proprietária de um pub local, assistiu a uma apresentação sua e de Lucas (Adriane Drink) e os convidou para levar um show de comédia para o bar. “Desde então, a gente começou a fazer, né, as Quintas Proibidas. Nasceu esse projeto no Deck Som”, conta Claudia. Após cerca de dez edições, o bar encerrou as atividades, e o projeto ficou em pausa.
Em 2022, o “Noites Proibidas” ressurgiu em um novo formato e em parceria com o bar Cervejinha. “A gente começou no dia 28 de junho de 2022, no Dia Internacional do Orgulho LGBT. E desde então, o projeto segue ativo”, explica Claudia.
Para a comunidade LGBTQIAPN+ de Cachoeiro, o “Noites Proibidas” tem sido um espaço crucial de celebração e resistência. Ela destaca que, em uma cidade com histórico de preconceito, o projeto representa uma forma de “resistência a isso, a partir da arte, da poesia, debochando da realidade e afirmando nossa presença na cidade, apesar de qualquer coisa”.
O impacto pessoal para os artistas envolvidos é significativo. “Possibilitou que desenvolvêssemos nossa arte e ganhássemos reconhecimento na cidade. Desde o início do projeto, evoluímos muito como pessoas e como artistas”, afirma Claudia. Ela revela que, em alguns momentos, o “Noites Proibidas” foi a principal fonte de renda para muitos, em um mercado de trabalho que frequentemente discrimina e dificulta a inserção da comunidade LGBTQIAPN+.
Coletivamente, o projeto promove um ambiente de acolhimento e diálogo. “O Noites Proibidas é um espaço que promove o afeto, a troca de experiências e a reflexão sobre a realidade da nossa comunidade”, diz Claudia. Em Cachoeiro, onde locais seguros e inclusivos são escassos, um evento pensado para e pela comunidade LGBTQIAPN+ oferece um conforto essencial.
Questionada sobre as mudanças na cidade desde o início do evento, Claudia pondera sobre a dificuldade em mensurar um impacto direto, mas observa um aumento na organização e interação entre os jovens LGBTQIAPN+. “Com o Noites Proibidas, conseguimos reunir muitas pessoas, principalmente jovens. Essa união e a troca de experiências são algo que tem se desenvolvido”, comenta. Apesar dos desafios em transformar mentalidades conservadoras, a esperança é que o trabalho do coletivo contribua para uma maior sensibilização da população.
Os desafios para manter o projeto vivo são consideráveis. A questão financeira é uma das principais, com dificuldades em obter apoio devido ao preconceito contra a temática LGBTQIAPN+ e a arte drag. “É muito difícil encontrar locais que acolham nossa festa e que sejam verdadeiramente receptivos com nossos corpos. As portas têm se fechado”, relata Claudia. A construção de um público engajado e a educação sobre a importância desses espaços culturais também são obstáculos constantes.
Na visão de Claudia, a arte drag desempenha um papel crucial ao confrontar as normas de gênero e provocar reflexões sobre o que é considerado padrão ou desvio. “A drag questiona nossas noções de gênero, o que entendemos por masculino e feminino e por que certas coisas são consideradas certas ou erradas”, explica. Ela enfatiza que a performance drag permite expressar identidades de forma livre e desafiar as construções sociais de gênero.
“A arte drag é uma forma de expressão da nossa própria compreensão do mundo. Ela nos permite expressar com mais liberdade e enfrentar um sistema opressor que tenta nos colocar em caixas”, afirma Claudia. A ocupação de espaços com essa arte é fundamental para democratizar a cultura e sensibilizar a sociedade para as diversas existências.
A principal mensagem do “Noites Proibidas” é a reafirmação da humanidade da comunidade LGBTQIAPN+. “É um espaço para mostrarmos que somos humanos como qualquer outro, com sentimentos, alegrias e tristezas”, declara Claudia.
O projeto também busca evidenciar a capacidade criativa e a importância da visão de mundo da comunidade LGBTQIAPN+, muitas vezes marginalizada e desacreditada. “Queremos ser felizes como somos e resistir, apesar de todas as dificuldades”, conclui Claudia, resumindo o espírito do evento: “É um público que sai de casa sabendo que será aceito e que terá uma noite de diversão e acolhimento”.
Com uma programação diversificada que inclui shows de drag queens, apresentações artísticas e muita música, o “Noites Proibidas” se consolida como um importante espaço de resistência, celebração e afirmação para a comunidade LGBTQIAPN+ de Cachoeiro de Itapemirim.
Saiba mais em @noitesproibidasoficial